sábado, 21 de abril de 2012

Trabalho desenvolvido na MCA


Caros leitores,
após vos ter explicado o que é a segurança alimentar, as principais doenças de origem alimentar e da Sistema HACCP, chegou a altura de vos dizer o que tenho feito ao longo deste tempo na MCA.
Como referi na publicação MCA – Segurança Alimentar, a empresa tem várias áreas de trabalho, resumidamente são:
  • Implementação e manutenção do Sistema HACCP;
  • Controlo de Pragas;
  • Laboratório;
  • Formação na área de Higiene e Segurança Alimentar e Higiene e Segurança no Trabalho;
  • Segurança e Higiene no Trabalho;
  • Produtos de Higiene e Limpeza.

Dentro de todas estas áreas, apenas a que não realizei, e não irei realizar, será a venda de produtos de higiene e limpeza, pois não está englobado em âmbito de estágio.
Mas, para além destas, realizo diariamente trabalho administrativo no escritório, onde dou uma ajuda à Eng.ª Teresa Coutinho.
Nas próximas publicações irei descrever as atividades realizadas.

Até breve! :)

sábado, 14 de abril de 2012

Sistema HACCP

“Uma boa vigilância não garante necessariamente a tomada das decisões certas, mas reduz as hipóteses de coisas erradas.”

Caros leitores,
Existe uma crescente preocupação da população em geral quanto à alimentação, ou seja, cada vez mais aquilo que as pessoas ingerem assume uma maior importância, nomeadamente nos aspetos relacionados com a saúde e nutrição (…).
Simultaneamente, verifica-se uma crescente valorização do consumidor para com a segurança e qualidade dos alimentos que ingere, em resultado, por exemplo, do uso de hormonas, a presença de pesticidas nos alimentos, de nitratos nas águas, os casos associados a bactérias e vírus transmissíveis alimento-consumidor, entre outros. Todos estes aspectos têm vindo a colocar em causa a confiança que os consumidores depositam na segurança alimentar. 

Foi devido à crescente procura de qualidade do alimento e, consequentemente, do aumento da confiança do cliente e valorização dos alimentos, que surgiu a necessidade de promover estratégias de Higiene e Segurança Alimentar.
Portanto, e no seguimento das Publicação anteriores, Segurança Alimentar – Conceito e Principais Doenças de Origem Alimentar, venho-vos falar do de uma estratégia de promoção de Higiene e Segurança Alimentar: HACCP.

HACCP é a abreviatura de Hazard Analysis and Critical Control Points – Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controlo, é uma estratégia criada para ser um sistema preventivo de controlo de segurança alimentar, que identifica os perigos específicos e as medidas preventivas para o seu controlo em todas as etapas de produção. Ou seja, é um sistema de controlo e acompanhamento mais rigoroso ao produto alimentar. Esse acompanhamento, como já referido, é realizado ao longo de toda a cadeia do género alimentício até ao consumidor final, ou seja, "do prado ao prato".

Segundo Pinto e Neves, o HACCP baseia-se numa aplicação metódica, sistemática e verificável para projetar, controlar e documentar a produção segura dos alimentos. Pois este tem a finalidade de, além da elaboração do alimento de forma segura, comprovar, através de documentação e técnica apropriada, que o produto seja produzido em segurança.


O Sistema HACCP leva em consideração três grandes áreas:
  • A Higiene - evitar a contaminação dos alimentos;
  • O Frio - evitar o desenvolvimento bateriano;
  • O Calor - destruir/evitar o desenvolvimento bateriano.



Um pouco de história…
O sistema HACCP foi desenvolvido nos anos 60 pelos laboratórios do Exército dos Estados Unidos e pela NASA, com a finalidade de garantir a qualidade e higiene da alimentação destinada aos astronautas do programa Apollo, tendo sido posteriormente desenvolvida e adoptada pela FDA – Food and Drugs Administration, como sistema de segurança alimentar.
Inicialmente houve um grande interesse neste novo método para garantir a inocuidade dos alimentos. A Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos da América (U.S. Food and Drugs Administration) começou a formar os seus inspectores na aplicação do HACCP e determinou a realização de inspecções especiais em instituições produtoras de alimentos, utilizando a nova tecnologia. (…)
Enquanto a descrição dos princípios HACCP é relativamente breve, o desenvolvimento de um plano HACCP não é nada simples, (…). Por essas razões, com excepção de algumas indústrias de grande dimensão (…), o HACCP não foi adoptado pela grande maioria da indústria alimentar.
Mas após um relatório elaborado por várias organizações governamentais sobre a presença de microrganismos nos alimentos, em 1985, que no final fazia apologia ao HACCP, veio fomentar a adopção da metodologia HACCP para a inocuidade dos alimentos. Posteriormente, foi publicado, pelo Comité da Higiene dos Alimentos da Comissão do Codex Alimentarius, o Guia para Aplicação do Sistema HACCP, em 1993. Foi ainda aprovada pela União Europeia a Diretiva 93/43 do Conselho de 14 de Junho, sendo transposta para o direito nacional através do Decreto-Lei n.º 67/98, de 18 de Março.


Atualmente…
Sendo o sistema HACCP de carácter preventivo, este possui uma base científica que assenta numa abordagem sistemática permitindo garantir não só a inocuidade do alimento, mas também a redução de custos operacionais, diminuindo a necessidade de realização de análises microbiológicas e a destruição ou reprocessamento, por razões de segurança do produto final. Ou seja, este efetua o controlo contínuo em todas as etapas de produção e processamento, que vão desde a produção primária do produtor alimentar até ao consumidor final, permitindo que sejam desenvolvidas ações de prevenção para que não seja ultrapassado o limite imposto a cada Ponto Critico de Controlo - PCC.
Por conseguinte, a sua implementação reduz a necessidade de inspeção e análise do produto final, permitindo o aumento da confiança e a segurança do consumidor. Facilita, também, o cumprimento de exigências legais e permite o uso eficiente de recursos de resposta imediata a questões relacionadas com a inocuidade dos alimentos.

O sistema HACCP assenta em sete princípios, sendo eles:
Princípio 1: Análise dos Perigos – Identificação de quaisquer perigos que devam ser evitados, eliminados ou reduzidos para níveis aceitáveis.
Ter em conta: a introdução de novos perigos; o destino dos perigos preexistentes (sobrevivência, crescimento, produção de toxinas); possibilidade de contaminação (pessoas, equipamento, ambiente);
Princípio 2: Determinação dos Pontos críticos de controlo – Identificação dos pontos críticos de controlo na fase ou fases em que o controlo é essencial para evitar ou eliminar um perigo ou para o reduzir para níveis aceitáveis, através da Árvore de Decisão;
Fonte: Pinto e Neves, 2010

Princípio 3: Estabelecimento de Limites críticos – Identificação de limites que separem a aceitabilidade da não aceitabilidade, com vista à prevenção, eliminação ou redução dos perigos identificados;
Princípio 4: Estabelecimento do Sistema de Monitorização – Aplicação de processos eficazes de vigilância em pontos críticos de controlo;
Princípio 5: Estabelecimento de Ações corretivas – Quando a vigilância indicar que um Ponto crítico de controlo está fora de controlo, deve ser colocada em prática a respetiva Ação corretiva;
Princípio 6: Estabelecimento de Procedimentos de Verificação – Deve ser efetuada regularmente, uma verificação para analisar se as medidas referidas nos Princípios 1 a 5 estão a funcionar eficazmente;
Princípio 7: Estabelecimento da Documentação – Elaboração de documentos e registos adequados à natureza e dimensão das empresas, a fim de demonstrar a aplicação eficaz das medidas referidas nos Princípios 1 a 6.

Mas a aplicabilidade destes princípios depende da seguinte metodologia:
Figura 2 - Metodologia de aplicação do Sistema HACCP
Fonte: Pinto e Neves, 2010

Embora se fale da aplicação do sistema HACCP nas etapas de processamento e desenvolvimento de alimentos, o “efetivamente” implementado é o Plano HACCP. Um Plano HACCP é específico para cada produto/processo, devendo a realização do estudo e planeamento ser efetuado caso a caso. Este consiste num documento escrito, preparado de acordo com os princípios HACCP e que refere quais os procedimentos a serem seguidos, de forma a garantir o controlo de um processo ou procedimento específico.
Desta forma, o sistema HACCP resulta da aplicação do bom senso a princípios técnicos e científicos (Plano HACCP), através de uma reflexão sobre diversas questões, nomeadamente:
  • O que é o meu produto?
  • Que perigos estão associados ao meu processo?
  • Em que etapas do processo podem ocorrer?
  • Qual a probabilidade destes perigos constituírem um risco para os consumidores?
  • Como devo prevenir ou controlar esses perigos por forma a garantir a segurança dos consumidores?



No entanto, para que a aplicação do sistema HACCP seja bem-sucedida, é necessário que seja assegurado o total compromisso e empenho da administração, bem como de todos os colaboradores, e ainda os pré-requisitos:
  • Requisitos estruturais;
  • O empenho da Direção/Administração;
  • Formação – A todos os colaboradores e operadores (não necessariamente limitada aos colaboradores envolvidos na implementação do HACCP). Os cursos de formação devem ser programados para atender às necessidades da indústria, governo, académicos e consumidores;
  • Controlo de pragas;
  • Procedimentos de higiene;
  • Plano de limpeza e desinfeção;
  • Controlo da potabilidade da água;
  • Saúde dos manipuladores.


O sistema HACCP é obrigatório?
É sim, está previsto desde a Diretiva 93/43 do Conselho, de 14 de Junho e Decreto-Lei n.º 67/98 de 18 de Março. Mas, atualmente a obrigatoriedade da sua implementação está regida pelo Regulamento (CE) 852/2004 de 29 Abril relativa à Higiene dos Alimentos, destinada aos operadores. Este é um documento de aplicação direta em todos os Estados Membros, e prevê que no Sistema de Segurança Alimentar a implementar sejam aplicados os princípios do HACCP.
Segundo a Associação Nacional de Empresas de Segurança Alimentar – ANESA, com a entrada em vigor do Regulamento (CE) 852/04 de 29-04, é revogado o DL 67/98 de 18-3 e as condições aí previstas. No entanto, e de acordo com o n.º 5 do Art.º 8.º do Regulamento, os Códigos de Boas Práticas elaborados em conformidade com as disposições da Diretiva 93/43/CEE (ou seja, do DL 67/98 de 18-3) continuam a ser aplicáveis após a entrada em vigor do Regulamento, desde que sejam compatíveis com os seus objetivos.

Espero que tenha sido esclarecedor...

Até breve! :)

Referências:

Associação Nacional de Empresas de Segurança Alimentar – ANESA. 2005. AUTOCONTROLO/HACCP – Regulamento (CE) 852/04 de 29-4. Consultado a 12 de Abril de 2012. Disponível em: http://www.anesaportugal.org/seguranca-alimentar-/236/autocontrolo-haccp/

Câmara Municipal do Porto - Câmara Municipal do Porto – Divisão Municipal de Feiras, Mercados e Inspeção Sanitária, 2009. Enformar Guia de Boas Práticas de Higiene e Segurança Alimentar. Consultado a 12 de Abril de 2012. Disponível em: http://www.cm-porto.pt/files/guia/files/geral.pdf
Paulo Batista, et. all. 2003. Sistema de Gestão de Segurança Alimentar. Consultado a 13 de Abril de 2012. Disponível em: http://www.esac.pt/noronha/manuais/manual_5.pdf
FQA e DCTA/ESAC, 2002. HACCP – Manual de Formação. Consultado a 13 de Abril de 2012. Disponível em: http://www.esac.pt/noronha/manuais/manual_HACCP_AGRO%2044.pdf

Pinto e Neves, 2010. HACCP: Análise de Riscos no Processamento Alimentar, 2ª Edição. Consultado a 13 de Abril de 2012. Disponível em: http://issuu.com/engebook/docs/haccp2?mode=embed

Center for Diase Control and Prevention – CDC. Environmental Health Specialists Network (EHS-Net):Contributing factor surveillance. Consultado a 12 de Abril de 2012. Disponível em: http://www.cdc.gov/foodborneburden/surveillance-systems.html

Publicação efetuada sobre novo Acordo Ortográfico

terça-feira, 10 de abril de 2012

Principais Doenças de Origem Alimentar

Caros leitores,
Este tema que vos falo hoje é sobre as consequências dos Perigos Alimentares, que se não forem encontrados e eliminados ou corrigidos, podem provocar doenças em indivíduos, com mais ou menos gravidade.

“As enfermidades de origem alimentar ocorrem quando uma pessoa contrai uma doença devido à ingestão de alimentos contaminados com microorganismos ou toxinas indesejáveis.”

Os microrganismos, toxinas indesejáveis, entre outros, são agentes patogénicos que podem ser inoculados a partir das mais diversas fontes, com capacidade de provocar doença. Com o referido na publicação Perigos Alimentares, os agentes patogénicos podem ser divididos de acordo com o grupo do seu perigo:

  • Perigos Biológicos;
  • Perigos Químicos;
  • Perigos Físicos.
“As fontes de contaminação mais frequentes na origem de surtos de doenças alimentares são:
  • Ingredientes contaminados;
  • Más condições higio-sanitárias;
  • Falha nos processos de controlo;
  • Processamento inadequado dos alimentos;
  • Contaminação cruzada;
  • Factores relacionados com a manipulação dos alimentos (refrigeração indevida, manipuladores doentes, armazenamento incorrecto).”

Os principais alimentos responsáveis por toxinfecções alimentares são:
  • Refeições cozinhadas
  • Bolos com creme
  • Sobremesas doces
  • Mousse de chocolate

Quando é que se origina uma doença de origem alimentar?
As doenças de origem alimentar ocorrem quando existe a reunião de vários fatores, tais como:
  • Capacidade de produzir doença (virulência do microrganismo, que é variável);
  • Vulnerabilidade específica de cada indivíduo (características fisiológicas).

Logo, o aparecimento de infeção deve-se à interação entre a capacidade do microrganismo causar doença (a sua virulência) e a vulnerabilidade do hospedeiro (capacidade de cada indivíduo, num determinado momento, de destruir ou não a infeção de acordo com o seu sistema imunitário). Ou seja, esse aparecimento depende da dose infeciosa ingerida.
Por exemplo, dois indivíduos (A e B) consumiram um alimento do mesmo lote, que continha Salmenella spp.. No dia seguinte, o indivíduo A manifesta os sintomas: náuseas, dores abdominais, febre e diarreia; enquanto o indivíduo B não tem qualquer manifestação. Tal facto deve-se à dose infeciosa que cada organismo humano tolera. Neste caso, o indivíduo A é mais suscetível que o indivíduo B.
Esta suscetibilidade dos indivíduos varia ao longo da vida de acordo com o estádio fisiológico e o estado de saúde, daí haver maiores cuidados com grupos mais vulneráveis:
  • Crianças;
  • Grávidas;
  • Idosos;
  • Indivíduos Imunodeprimidos.

Segundo a Médica de Saúde Pública Elsa Soares, do Serviço de Saúde Pública da ARSLVT – Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, essa suscetibilidade e prevalência de doenças de origem alimentar pode ser ainda influenciada “por diversos factores, nomeadamente por alterações ambientais, industrialização, estilos de vida, urbanização, mudanças de hábitos, comércio internacional, alongamento da cadeia alimentar, conhecimentos, atitudes e comportamentos dos manipuladores de alimentos - quer profissionais quer domésticos - e pela própria informação do consumidor.”

Quais as doenças mais frequentes de origem alimentar?
Toxinfecções e dividem-se em dois grupos:
  • Infeção Alimentar;
  • Intoxicação Alimentar.

Qual a diferença entre elas?

Tabela 1 - Diferenças entre a Infeção e Intoxicação Alimentar
Fonte: Ana Martinez


Qual a forma de prevenção das doenças de origem alimentar?
Num geral, as organizações mundiais afirmam que a preparação higiénica dos alimentos pode prevenir a ocorrência da maioria das doenças de origem alimentar e a qualidade dos produtos. Portanto, segundo o folheto informativo Regras Básicas Para Prevenir as “Intoxicações” Alimentares, do Grupo de Segurança Alimentar da Escola Superior de Biotecnologia – Universidade Católica Portuguesa (Figura 1), e do Manual da World Health Organization: Five Keys for Safer Food Manual, essas chaves são:
  1. Mantenha a limpeza;
  2. Separe alimentos crus de alimentos cozinhados;
  3. Cozinhe bem os alimentos;
  4. Mantenha os alimentos a temperaturas seguras;
  5. Use água e matérias-primas seguras.

Figura 1 - Regras Básicas Para Prevenir as “Intoxicações” Alimentare

Fonte: Grupo de Segurança Alimentar da Escola Superior de Biotecnologia – Universidade Católica Portuguesa
Para além de manter as condições higiénicas e boas práticas de fabrico é necessário que seja efectuado o controlo e acompanhamento de toda a cadeia do produto alimentar. Esse controlo funciona para averiguação da qualidade e de possíveis irregularidades desde a produção primária até ao consumidor final. Ou seja, assenta no conceito de acompanhamento do produtor alimentar “do prado ao prato”. Esse acompanhamento é realizado através da implementação de Planos de HACCP – Hazard Analysis and Critical Control Points, com a educação de produtores, manipuladores e consumidores; e implementação de sistemas de vigilância e controlo (este tema será abordado brevemente).


Até breve! J

Referências:
Ative, 2007. Doenças de Origem Alimentar – Infeções e Intoxicações. Consultado a 7 de Abril de 2012. Disponível em: http://www.infoqualidade.net/SEQUALI/PDF-SEQUALI-02/n02-06-09.pdf
Qualfood, 2003. Regras Básicas Para Prevenir as “Intoxicações” Alimentares. Grupo de Segurança Alimentar da Escola Superior de Biotecnologia – Universidade Católica Portuguesa. Consultado a 10 de Abril de 2012. Disponível em: http://qualfood.biostrument.com/files/conteudos/aesbuc.pdf
Revista Food Ingredients Brasil, n.º199, 2011. Microorganismos causadores de doenças de origem alimentar. Consultado a 5 de Abril de 2012. Disponível em: http://www.revista-fi.com/materias/198.pdf
WHO, 2006. Five Keys for Safer Food Manual. Consultado a 5 de Abril de 2012. Disponível em: http://www.who.int/foodsafety/publications/consumer/manual_keys.pdf




Publicação efetuada sobre novo Acordo Ortográfico