sábado, 14 de abril de 2012

Sistema HACCP

“Uma boa vigilância não garante necessariamente a tomada das decisões certas, mas reduz as hipóteses de coisas erradas.”

Caros leitores,
Existe uma crescente preocupação da população em geral quanto à alimentação, ou seja, cada vez mais aquilo que as pessoas ingerem assume uma maior importância, nomeadamente nos aspetos relacionados com a saúde e nutrição (…).
Simultaneamente, verifica-se uma crescente valorização do consumidor para com a segurança e qualidade dos alimentos que ingere, em resultado, por exemplo, do uso de hormonas, a presença de pesticidas nos alimentos, de nitratos nas águas, os casos associados a bactérias e vírus transmissíveis alimento-consumidor, entre outros. Todos estes aspectos têm vindo a colocar em causa a confiança que os consumidores depositam na segurança alimentar. 

Foi devido à crescente procura de qualidade do alimento e, consequentemente, do aumento da confiança do cliente e valorização dos alimentos, que surgiu a necessidade de promover estratégias de Higiene e Segurança Alimentar.
Portanto, e no seguimento das Publicação anteriores, Segurança Alimentar – Conceito e Principais Doenças de Origem Alimentar, venho-vos falar do de uma estratégia de promoção de Higiene e Segurança Alimentar: HACCP.

HACCP é a abreviatura de Hazard Analysis and Critical Control Points – Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controlo, é uma estratégia criada para ser um sistema preventivo de controlo de segurança alimentar, que identifica os perigos específicos e as medidas preventivas para o seu controlo em todas as etapas de produção. Ou seja, é um sistema de controlo e acompanhamento mais rigoroso ao produto alimentar. Esse acompanhamento, como já referido, é realizado ao longo de toda a cadeia do género alimentício até ao consumidor final, ou seja, "do prado ao prato".

Segundo Pinto e Neves, o HACCP baseia-se numa aplicação metódica, sistemática e verificável para projetar, controlar e documentar a produção segura dos alimentos. Pois este tem a finalidade de, além da elaboração do alimento de forma segura, comprovar, através de documentação e técnica apropriada, que o produto seja produzido em segurança.


O Sistema HACCP leva em consideração três grandes áreas:
  • A Higiene - evitar a contaminação dos alimentos;
  • O Frio - evitar o desenvolvimento bateriano;
  • O Calor - destruir/evitar o desenvolvimento bateriano.



Um pouco de história…
O sistema HACCP foi desenvolvido nos anos 60 pelos laboratórios do Exército dos Estados Unidos e pela NASA, com a finalidade de garantir a qualidade e higiene da alimentação destinada aos astronautas do programa Apollo, tendo sido posteriormente desenvolvida e adoptada pela FDA – Food and Drugs Administration, como sistema de segurança alimentar.
Inicialmente houve um grande interesse neste novo método para garantir a inocuidade dos alimentos. A Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos da América (U.S. Food and Drugs Administration) começou a formar os seus inspectores na aplicação do HACCP e determinou a realização de inspecções especiais em instituições produtoras de alimentos, utilizando a nova tecnologia. (…)
Enquanto a descrição dos princípios HACCP é relativamente breve, o desenvolvimento de um plano HACCP não é nada simples, (…). Por essas razões, com excepção de algumas indústrias de grande dimensão (…), o HACCP não foi adoptado pela grande maioria da indústria alimentar.
Mas após um relatório elaborado por várias organizações governamentais sobre a presença de microrganismos nos alimentos, em 1985, que no final fazia apologia ao HACCP, veio fomentar a adopção da metodologia HACCP para a inocuidade dos alimentos. Posteriormente, foi publicado, pelo Comité da Higiene dos Alimentos da Comissão do Codex Alimentarius, o Guia para Aplicação do Sistema HACCP, em 1993. Foi ainda aprovada pela União Europeia a Diretiva 93/43 do Conselho de 14 de Junho, sendo transposta para o direito nacional através do Decreto-Lei n.º 67/98, de 18 de Março.


Atualmente…
Sendo o sistema HACCP de carácter preventivo, este possui uma base científica que assenta numa abordagem sistemática permitindo garantir não só a inocuidade do alimento, mas também a redução de custos operacionais, diminuindo a necessidade de realização de análises microbiológicas e a destruição ou reprocessamento, por razões de segurança do produto final. Ou seja, este efetua o controlo contínuo em todas as etapas de produção e processamento, que vão desde a produção primária do produtor alimentar até ao consumidor final, permitindo que sejam desenvolvidas ações de prevenção para que não seja ultrapassado o limite imposto a cada Ponto Critico de Controlo - PCC.
Por conseguinte, a sua implementação reduz a necessidade de inspeção e análise do produto final, permitindo o aumento da confiança e a segurança do consumidor. Facilita, também, o cumprimento de exigências legais e permite o uso eficiente de recursos de resposta imediata a questões relacionadas com a inocuidade dos alimentos.

O sistema HACCP assenta em sete princípios, sendo eles:
Princípio 1: Análise dos Perigos – Identificação de quaisquer perigos que devam ser evitados, eliminados ou reduzidos para níveis aceitáveis.
Ter em conta: a introdução de novos perigos; o destino dos perigos preexistentes (sobrevivência, crescimento, produção de toxinas); possibilidade de contaminação (pessoas, equipamento, ambiente);
Princípio 2: Determinação dos Pontos críticos de controlo – Identificação dos pontos críticos de controlo na fase ou fases em que o controlo é essencial para evitar ou eliminar um perigo ou para o reduzir para níveis aceitáveis, através da Árvore de Decisão;
Fonte: Pinto e Neves, 2010

Princípio 3: Estabelecimento de Limites críticos – Identificação de limites que separem a aceitabilidade da não aceitabilidade, com vista à prevenção, eliminação ou redução dos perigos identificados;
Princípio 4: Estabelecimento do Sistema de Monitorização – Aplicação de processos eficazes de vigilância em pontos críticos de controlo;
Princípio 5: Estabelecimento de Ações corretivas – Quando a vigilância indicar que um Ponto crítico de controlo está fora de controlo, deve ser colocada em prática a respetiva Ação corretiva;
Princípio 6: Estabelecimento de Procedimentos de Verificação – Deve ser efetuada regularmente, uma verificação para analisar se as medidas referidas nos Princípios 1 a 5 estão a funcionar eficazmente;
Princípio 7: Estabelecimento da Documentação – Elaboração de documentos e registos adequados à natureza e dimensão das empresas, a fim de demonstrar a aplicação eficaz das medidas referidas nos Princípios 1 a 6.

Mas a aplicabilidade destes princípios depende da seguinte metodologia:
Figura 2 - Metodologia de aplicação do Sistema HACCP
Fonte: Pinto e Neves, 2010

Embora se fale da aplicação do sistema HACCP nas etapas de processamento e desenvolvimento de alimentos, o “efetivamente” implementado é o Plano HACCP. Um Plano HACCP é específico para cada produto/processo, devendo a realização do estudo e planeamento ser efetuado caso a caso. Este consiste num documento escrito, preparado de acordo com os princípios HACCP e que refere quais os procedimentos a serem seguidos, de forma a garantir o controlo de um processo ou procedimento específico.
Desta forma, o sistema HACCP resulta da aplicação do bom senso a princípios técnicos e científicos (Plano HACCP), através de uma reflexão sobre diversas questões, nomeadamente:
  • O que é o meu produto?
  • Que perigos estão associados ao meu processo?
  • Em que etapas do processo podem ocorrer?
  • Qual a probabilidade destes perigos constituírem um risco para os consumidores?
  • Como devo prevenir ou controlar esses perigos por forma a garantir a segurança dos consumidores?



No entanto, para que a aplicação do sistema HACCP seja bem-sucedida, é necessário que seja assegurado o total compromisso e empenho da administração, bem como de todos os colaboradores, e ainda os pré-requisitos:
  • Requisitos estruturais;
  • O empenho da Direção/Administração;
  • Formação – A todos os colaboradores e operadores (não necessariamente limitada aos colaboradores envolvidos na implementação do HACCP). Os cursos de formação devem ser programados para atender às necessidades da indústria, governo, académicos e consumidores;
  • Controlo de pragas;
  • Procedimentos de higiene;
  • Plano de limpeza e desinfeção;
  • Controlo da potabilidade da água;
  • Saúde dos manipuladores.


O sistema HACCP é obrigatório?
É sim, está previsto desde a Diretiva 93/43 do Conselho, de 14 de Junho e Decreto-Lei n.º 67/98 de 18 de Março. Mas, atualmente a obrigatoriedade da sua implementação está regida pelo Regulamento (CE) 852/2004 de 29 Abril relativa à Higiene dos Alimentos, destinada aos operadores. Este é um documento de aplicação direta em todos os Estados Membros, e prevê que no Sistema de Segurança Alimentar a implementar sejam aplicados os princípios do HACCP.
Segundo a Associação Nacional de Empresas de Segurança Alimentar – ANESA, com a entrada em vigor do Regulamento (CE) 852/04 de 29-04, é revogado o DL 67/98 de 18-3 e as condições aí previstas. No entanto, e de acordo com o n.º 5 do Art.º 8.º do Regulamento, os Códigos de Boas Práticas elaborados em conformidade com as disposições da Diretiva 93/43/CEE (ou seja, do DL 67/98 de 18-3) continuam a ser aplicáveis após a entrada em vigor do Regulamento, desde que sejam compatíveis com os seus objetivos.

Espero que tenha sido esclarecedor...

Até breve! :)

Referências:

Associação Nacional de Empresas de Segurança Alimentar – ANESA. 2005. AUTOCONTROLO/HACCP – Regulamento (CE) 852/04 de 29-4. Consultado a 12 de Abril de 2012. Disponível em: http://www.anesaportugal.org/seguranca-alimentar-/236/autocontrolo-haccp/

Câmara Municipal do Porto - Câmara Municipal do Porto – Divisão Municipal de Feiras, Mercados e Inspeção Sanitária, 2009. Enformar Guia de Boas Práticas de Higiene e Segurança Alimentar. Consultado a 12 de Abril de 2012. Disponível em: http://www.cm-porto.pt/files/guia/files/geral.pdf
Paulo Batista, et. all. 2003. Sistema de Gestão de Segurança Alimentar. Consultado a 13 de Abril de 2012. Disponível em: http://www.esac.pt/noronha/manuais/manual_5.pdf
FQA e DCTA/ESAC, 2002. HACCP – Manual de Formação. Consultado a 13 de Abril de 2012. Disponível em: http://www.esac.pt/noronha/manuais/manual_HACCP_AGRO%2044.pdf

Pinto e Neves, 2010. HACCP: Análise de Riscos no Processamento Alimentar, 2ª Edição. Consultado a 13 de Abril de 2012. Disponível em: http://issuu.com/engebook/docs/haccp2?mode=embed

Center for Diase Control and Prevention – CDC. Environmental Health Specialists Network (EHS-Net):Contributing factor surveillance. Consultado a 12 de Abril de 2012. Disponível em: http://www.cdc.gov/foodborneburden/surveillance-systems.html

Publicação efetuada sobre novo Acordo Ortográfico

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